“No tempo de António Nobre, pescava-se em botes pelo escuro…”
A traineira é, como sabemos, uma embarcação utilizada na “pesca de cerco”. Foi introduzida em Portugal (Peniche) há cerca de um século (1913), tendo sido o primeiro exemplar adquirido em Vigo. O nome de traineira deriva de traiña, arte de pesca anteriormente utilizada na Cantábria e na Galiza, que consistia em cercar o peixe a partir da praia com uma rede com cinquenta braças de comprimento e oito de largura, utilizando pequenos barcos de apoio. Mais tarde, a pesca do cerco passou a ser feita em pleno mar.
Quando se localizava um cardume (normalmente de sardinhas) saía a traineira (movida a remos) para o local indicado por sinais no mar (geitos) característicos: golfinhos, aves, agitação da água, fosforecência nocturna, etc. Chegados ao local, os pescadores apressavam-se a lançar uma ponta da rede, que tinha um peso de chumbo de um lado e uma bóia de cortiça no lado oposto. Rapidamente (para que a sardinha não fugisse), descreviam um grande círculo em torno do cardume, remando fortemente e largando a rede, à medida que deixavam cair os sucessivos pesos da rede, ficando as bóias à vista. Depois de fechado o círculo, começavam de imediato a puxar a rede pelo fundo e por um cabo (retenida) que passava pelas bóias. Formavam desta forma uma espécie de saco, que iam apertando, até poderem despejar o seu conteúdo (as sardinhas) para o interior da embarcação.
A chalandra era um pequeno barco a remos rebocado pela traineira, que permanecia no local de lançamento da rede, enquanto a traineira, com o seu potente motor a “fogo” (a vapor), descrevia um grande círculo, cercando rapidamente o cardume com a rede. Uma vez fechado o círculo, a ponta da retenida da chalandra era entregue à traineira e a rede alada pelo guincho do motor.
Após um período de frenético abate destas embarcações com o incentivo da então CEE, assistimos hoje ao renascer da traineira e da pesca costeira. A maior parte das novas traineiras ainda é construída em madeira, como as antigas Caravelas, estando equipadas com sondas, radar, GPS, rádio e todos os meios modernos de segurança e eficácia. A sardinha (fresca) continua a ser uma preferência dos portugueses, após ter “resistido” aos ataques das legislações comunitárias e das importações congeladas de Espanha. Do Minho ao Algarve, não há sardinha mais saborosa que a da costa de Portugal.